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A ascensão dos EUA explicada pelo fator que quase ninguém menciona: energia abundante.
A história oficial da ascensão dos Estados Unidos costuma ser contada como uma cronologia de políticas públicas, guerras vencidas, inovação tecnológica e um espírito nacional empreendedor. Tudo isso tem alguma verdade, mas nenhum desses elementos explica, sozinho, como uma colônia periférica no século XVIII se tornou, em menos de duzentos anos, a maior potência que a humanidade já conheceu.

O que impulsionou os EUA não foi apenas democracia, liberdade econômica ou genialidade cultural. O motor invisível dessa civilização foi algo muito mais simples e muito mais decisivo: a energia abundante.
Se você observar com calma, percebe que todos os saltos que definiram o destino americano foram precedidos por um único fenômeno.
Sempre que os Estados Unidos descobriram uma nova fonte de energia em grande escala, uma nova fronteira econômica se abriu, e a nação inteira atravessava um portal para outro nível de poder.
No início do século XIX, o carvão americano era tão acessível que permitiu aos EUA induzirem uma revolução industrial paralela à europeia, porém com custos menores. Esse carvão energizou ferrovias, siderúrgicas, locomotivas, caldeiras, navios e todo o esqueleto produtivo da nova nação. Linhas ferroviárias se estendiam como artérias metálicas que cortavam o continente, transformando distância em oportunidade. Foi energia.
Depois veio o petróleo. A Pensilvânia se tornou, no final do século XIX, o epicentro mundial da nova riqueza líquida que substituiria o carvão nas máquinas e no transporte. A Standard Oil de Rockefeller não construiu apenas uma empresa. Construiu o século XX. O petróleo americano barateou o transporte, acelerou a expansão territorial, alimentou automóveis, caminhões, tratores e aviões. A vida moderna nasceu ali. Foi energia.
Na década de 1930, o governo Roosevelt ergueu barragens colossais como a Hoover Dam, que se tornou um símbolo global de modernidade. Essa usina não era apenas uma obra pública. Era um anúncio: os EUA haviam entrado na era da energia controlada, previsível e abundante. Indústrias inteiras migraram para onde a eletricidade era barata. Foi energia.
No pós-guerra, quando o mundo ainda calculava os mortos, os Estados Unidos já inauguravam reatores nucleares. A energia nuclear americana forneceu estabilidade a longas cadeias industriais, sustentou polos tecnológicos e permitiu que universidades e laboratórios trabalhassem em níveis que outros países não conseguiam financiar. Novamente, energia.

Quando você observa o quadro completo, percebe que a ascensão americana não foi um milagre social, político ou militar. A força dos EUA não veio apenas da Constituição, nem do dólar, nem das guerras vencidas.
Veio da energia barata e abundante que sustentou tudo isso.
Energia barata significa indústria competitiva.
Energia estável significa logística previsível.
Energia abundante significa cidades funcionando, produção crescendo e famílias prosperando.
Eis a verdade que nunca aparece de forma explícita nos livros escolares: as civilizações que possuem muita energia avançam; as que possuem pouca energia são obrigadas a sobreviver.
O maior erro que se comete ao tentar entender o poder americano é olhar para suas consequências e ignorar suas causas. Os Estados Unidos só puderam construir sua supremacia porque tiveram, por mais de um século, a matriz energética mais barata, segura e expansiva entre todas as grandes nações do planeta.
E é aqui que começamos nossa jornada. Porque, para entender o presente e o futuro do Brasil, precisamos primeiro entender a lógica que fez dos EUA aquilo que são hoje.

o desenvolvimento do Sul dos Estados Unidos, uma das regiões mais quentes do mundo, só se tornou possível graças à invenção do ar-condicionado.
Quando se observa o mapa americano, há algo profundamente intrigante.
Durante boa parte da história, o sul dos EUA era uma região quente demais para abrigar centros industriais de alta produtividade. Calor intenso, umidade sufocante, longos verões, tempestades tropicais. Era um ambiente que, apesar de fértil, impunha limites severos à eficiência humana.
As grandes cidades americanas surgiram no norte, não por acaso, mas por necessidade fisiológica. Temperaturas mais amenas permitiam jornadas longas, concentração por horas e ambientes de fabricação sem risco de exaustão térmica. Nova York, Boston, Chicago, Detroit, Pittsburgh, Filadélfia e Cleveland se tornaram pilares industriais porque eram… suportáveis.
Mas algo mudou na metade do século XX.
Um pequeno aparelho, inicialmente caro e restrito, se tornaria um dos maiores responsáveis pela redistribuição econômica do país: o ar-condicionado.

Essa invenção, frequentemente tratada como um conforto doméstico, foi na verdade uma das tecnologias mais transformadoras da história moderna. O ar-condicionado alterou padrões migratórios, reorganizou indústrias e criou novas regiões de prosperidade econômica. Descrevo isso como uma “tecnologia de domesticação climática”, e a expressão não poderia ser mais precisa.
Sem o ar-condicionado, cidades como Houston, Dallas, Phoenix, Atlanta e Miami jamais teriam se tornado metrópoles robustas. Antes da climatização, escritórios ferviam, fábricas reduziam turnos e humanos simplesmente não conseguiam operar em níveis produtivos durante meses inteiros. O calor impunha um teto civilizatório.
Depois do ar-condicionado, esse teto desapareceu.
A transformação foi tão profunda que economistas chamam o fenômeno de “The Great Sunbelt Migration”. Entre 1960 e 2000, mais de 40 milhões de americanos migraram para o Sul. Indústrias acompanharam o movimento. Centros tecnológicos surgiram onde antes só havia clima hostil. O Texas, hoje lar de gigantes como Tesla, SpaceX, Dell e dezenas de laboratórios avançados, só se tornou possível porque o ar-condicionado tornou o Texas habitável em escala moderna.
Produtividade humana é energia organizada. E o ar-condicionado é, na prática, uma máquina que transforma energia elétrica em produtividade social.
Há algo quase filosófico nisso.
O clima deixou de ser destino.
O calor deixou de ser barreira.
E o território deixou de ser limite civilizatório.
Quando os Estados Unidos aprenderam a domesticar o clima, libertaram metade de seu território para competir no século XX. E libertaram também a capacidade humana de criar, trabalhar e inovar em regiões que antes eram inabitáveis economicamente.

Esse movimento não é isolado.
Hoje, a Índia segue exatamente o mesmo caminho. Escritórios climatizados em Bangalore, Hyderabad e Chennai se tornaram centros globais de TI. O Sudeste Asiático inteiro se industrializa em regiões onde, sem ar-condicionado, o ser humano produziria 30% menos. Até grandes empresas japonesas migraram fábricas para países tropicais graças ao clima controlado.
Controlar o ambiente é controlar o futuro.
E agora chegamos ao ponto mais importante desta parte da análise:
o Brasil está prestes a viver, pela primeira vez, o mesmo tipo de inflexão que transformou o sul dos EUA em potência.
Mas só viverá se entender que climatização, energia e produtividade são o mesmo fenômeno.
Quando observamos o mapa das nações que mais crescem no século XXI, algo salta aos olhos.
A maior parte delas está em regiões tropicais ou subtropicais: Índia, Vietnã, Indonésia, Filipinas, Malásia.
Por muito tempo, acreditou-se que o clima quente seria um obstáculo definitivo para o desenvolvimento em larga escala. Mas essa percepção mudou radicalmente quando essas nações passaram a acessar duas condições inéditas:
climatização acessível e energia mais barata.
Essa combinação, que antes parecia trivial, se tornou o motor silencioso da nova economia global.
A Índia é o caso mais simbólico. Bangalore, Hyderabad, Pune e Chennai não deveriam, historicamente, ser polos tecnológicos. As temperaturas médias variam entre 30 e 40 graus por longos períodos. Mas a expansão massiva do ar-condicionado, associada ao acesso crescente à energia elétrica, transformou essas regiões em centros de produtividade.
A produtividade da mente humana é profundamente afetada pelo clima.
Isso é ciência, não opinião.
O corpo humano trabalha a 37 graus.
A mente trabalha melhor entre 18 e 24.

Quando a Índia entendeu isso, destravou uma força de trabalho intelectual gigantesca que antes era desperdiçada pelo calor.
Programadores, engenheiros, empresários e pesquisadores passaram a operar em condições semelhantes às de países temperados. O resultado não demorou a aparecer: a Índia saltou de uma economia estagnada para uma potência digital.
Fenômeno idêntico ocorre no Vietnã, onde fábricas de alta tecnologia chegaram só depois que a rede elétrica foi modernizada e climatizadores se tornaram acessíveis. O país recebeu indústrias que migraram da China, não por mão de obra barata, mas porque a infraestrutura energética permitia operar 24 horas por dia.
Na Indonésia, a climatização de polos produtivos em Jacarta e Surabaya transformou a produtividade industrial. No Golfo Pérsico, cidades inteiras foram erguidas em desertos inabitáveis graças à climatização artificial, convertendo calor extremo em força econômica.
O que une todos esses casos?
A mesma equação civilizatória que eu, Lizandro Rosberg, sempre descrevo como a tríade fundamental do século XXI:
energia abundante + climatização + produtividade humana.
Agora chegamos ao Brasil.
Um país tropical, vasto, com clima intenso em quase todas as regiões, e com potencial energético que beira o surreal. No entanto, o Brasil ainda não realizou o salto que Índia e Sudeste Asiático deram. Não por falta de capacidade humana, mas por falta de uma política estratégica de energia.
Enquanto Índia e Vietnã modernizam redes, constroem termelétricas de nova geração, expandem solar e criam zonas altamente climatizadas de produção, o Brasil ainda tenta funcionar com uma estrutura fragmentada, dependente de hidrelétricas vulneráveis ao clima e investimentos inconsistentes em energia limpa.
Somos uma potência adormecida esperando energia.
As regiões mais quentes do Brasil, que poderiam ser polos industriais, como Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste, ainda não receberam a infraestrutura necessária para esse salto.
E aqui está a parte decisiva:
Se o Brasil quiser entrar entre as grandes potências, precisa entender que energia não é setor da economia. Energia é o pré-requisito de toda economia.
Quando um país tropical domina sua matriz energética e climatiza seus polos industriais, ele ganha 30% a mais de produtividade humana automaticamente.
É matemática civilizatória.
E isso nos leva diretamente à parte mais importante de toda a análise.
Há um desconforto silencioso que percorre o Brasil há anos, mas que ninguém consegue explicar com precisão. O país parece sempre à beira de crescer, mas nunca cresce.
Parece sempre prestes a virar potência, mas nunca vira.
Parece conter um potencial extraordinário, mas nunca alcança o patamar que seu tamanho sugere.
E então, de forma quase discreta, o Brasil caiu recentemente para 11ª economia do mundo.
Na prática, é como se tivéssemos descido um degrau da escada civilizatória enquanto outros países sobem com passos largos. A pergunta é inevitável:
Por que o Brasil está perdendo terreno?
Competência humana não falta. Território não falta. Recursos não faltam. O que está impedindo o salto?
A explicação existe, mas raramente é dita com clareza.
E ela não está na política, nem na conjuntura, nem em narrativas ideológicas.
Ela está naquilo que moldou todas as potências da história.
Ela está na energia.
O Brasil não está ficando para trás porque é incapaz.
O Brasil está ficando para trás porque não possui energia suficiente, estável, barata e previsível para sustentar uma civilização competitiva no século XXI.

É duro admitir, mas é preciso dizer:
somos um país de dimensões continentais tentando viver com uma matriz energética do século passado.
1. Dependência excessiva de hidrelétricas
As hidrelétricas foram uma benção no século XX, mas são vulneráveis às mudanças climáticas, períodos de seca e limitações geográficas.
Quando chove pouco, a economia sofre.
Quando chove muito, a rede colapsa.
Energia que depende de clima é energia que não permite planejamento.
2. Expansão solar aquém do necessário
O Brasil possui uma das melhores insolação do planeta.
Ainda assim, nossa capacidade instalada é menor do que países muito menores e menos ensolarados.
É um contrassenso quase inexplicável.
Já escrevi que nenhuma grande potência do futuro será construída sem “um oceano de painéis solares espalhado por todos os tetos do país”.
3. Atraso no setor nuclear
O mundo moderno está renascendo o nuclear por causa dos SMRs, reatores modulares pequenos e seguros.
Enquanto França, Japão, Coreia do Sul, EUA e Reino Unido aceleram, o Brasil permanece preso a modelos antigos.
Sem nuclear moderna, não há indústria estável.
4. Rede de transmissão saturada e envelhecida
Mesmo quando energia é produzida, ela não chega onde deveria.
É como ter água limpa em uma caixa d’água com encanamento furado.
A infraestrutura hoje não sustenta nem a demanda atual, muito menos a futura.
5. Falta de previsibilidade tarifária
Empresas não investem em longo prazo quando a energia oscila de preço ou sofre interferência política.
Uma indústria só migra para um país quando sabe que terá décadas de estabilidade energética.
O resultado final é inevitável:
sem energia abundante, o Brasil não reindustrializa.
Sem energia abundante, o Brasil não atrai empresas.
Sem energia abundante, o trabalhador não produz em seu potencial máximo.
Sem energia abundante, o PIB estagna.
Não é incompetência. Não é destino. É engenharia.
Os EUA dominaram carvão, petróleo, hidro e nuclear.
O Sul americano só prosperou porque dominou a climatização.
A Índia só explodiu porque estabilizou sua rede.
O Vietnã só recebeu fábricas porque garantiu energia contínua.
A China só se tornou o que é porque ergueu usinas em escala continental.
E o Brasil?
O Brasil ainda está apostando que o talento humano será suficiente para compensar o déficit energético.
Não será.
Nenhuma potência na história se ergueu com energia cara ou instável.
Estamos perdendo o século por falta de energia.
E isso é exatamente o que esta análise deixa claro de forma irrevogável.
Como o Brasil pode se tornar uma potência em 20 anos: o caminho energético que nenhuma política econômica substitui**
Se a decadência econômica do Brasil tem uma causa estrutural, a recuperação também precisa ter uma solução estrutural.
Potências não são criadas por discursos, nem por reformas isoladas. Potências são erguidas quando um país descobre como controlar a energia que sustenta tudo.
E no caso do Brasil, isso não é apenas possível.
É inevitável se fizermos o movimento correto.
O país tem uma vantagem que Índia, Vietnã e Indonésia jamais terão. Tem sol para abastecer continentes, vento suficiente para complementar sistemas inteiros, rios grandiosos, vastidão geográfica e uma posição estratégica absurda entre Atlântico Sul, América Latina e rotas comerciais.
O que falta não é potencial.
O que falta é planejamento energético de Estado, algo que países sérios tratam como prioridade nacional.
Aqui está o perfil energético que permitiria ao Brasil se tornar uma potência em menos de 20 anos.
1. Energia solar fotovoltaica como política profilática nacional

Placas solares não são apenas um investimento financeiro.
São um mecanismo estratégico de descentralização energética.
• reduzem a demanda sobre o grid
• diminuem a conta de energia das famílias
• transformam casas e empresas em microgeradores
• criam resiliência em blackouts
• reduzem pressão sobre hidrelétricas
• aliviam o sistema em horários críticos
Se metade dos telhados brasileiros tivesse energia solar, o Brasil já seria outro país.
A Alemanha fez isso com muito menos sol.
A Austrália fez isso com uma população menor do que a do estado de São Paulo.
E ambos viraram referências globais em energia distribuída.
O Brasil pode fazer melhor.
2. Usinas termonucleares modernas e SMRs: o coração energético que falta

O mundo está ressuscitando o nuclear, não o nuclear antigo, mas o nuclear modular.
Os SMRs, reatores modulares pequenos, são seguros, baratos de manter e escaláveis.
Eles oferecem:
• energia estável
• custo previsível
• operação contínua
• baixa emissão
• suporte para grandes polos industriais
França, Japão, EUA, Canadá e Coreia do Sul já estão na corrida.
O Brasil sequer entrou.
Se quisermos reindustrializar o país, precisamos de 4 a 6 SMRs em operação e mais alguns projetados para grandes zonas industriais.
Ninguém constrói civilização moderna sem energia estável.
Essa é a parte em que, eu, Lizandro Rosberg, muitas vezes alertei, o Brasil demonstra atraso estratégico que não pode mais ser tolerado.
3. Hidrogênio verde como produto de exportação e pilar industrial

O Nordeste tem, hoje, um dos menores custos potenciais de produção de hidrogênio verde do planeta.
• sol constante
• ventos fortes
• proximidade com Europa
• portos naturais
• território barato
Não aproveitar isso é abdicar de trilhões.
O hidrogênio verde é o “petróleo do século XXI”, e o Brasil ainda pode liderar esse mercado se agir rápido.
4. Modernização total das linhas de transmissão
De nada adianta produzir energia se ela não chega à indústria e às casas.
A rede brasileira, em muitos pontos, opera no limite.
É como tentar abastecer um país inteiro com uma mangueira fina.
China, EUA e Índia investiram pesado em modernização do grid.
O Brasil precisa fazer o mesmo.
5. Incentivos fiscais para empresas que migram para energia limpa
Toda empresa que instala solar, armazenamento, climatização eficiente ou produção renovável alivia o país inteiro.
Política fiscal inteligente não é gasto. É investimento.
6. Transformar energia em soberania nacional
Quando um país domina energia:
• reduz inflação estrutural
• atrai fábricas
• aumenta produtividade
• diminui vulnerabilidade externa
• fortalece moeda
• melhora qualidade de vida
• cria empregos de alto valor
• incentiva inovação
• estabiliza crescimento
Não existe política econômica capaz de competir com o impacto de energia abundante.
Energia não é mais parte da economia.
Energia é a infraestrutura da civilização.
Quando falamos de transição energética, muitos imaginam que isso é responsabilidade apenas dos governos, das grandes empresas ou de instituições multilaterais. Mas toda revolução energética, desde a domesticação do fogo até a popularização da eletricidade, começa com decisões individuais que parecem pequenas no início, mas que mudam o destino de famílias inteiras.
O Brasil só se tornará uma potência quando a energia abundante chegar ao cotidiano das pessoas. E isso acontece quando cada pessoa entende que seu papel não é esperar pelo Estado, mas criar sua própria infraestrutura de estabilidade. Essa é a mentalidade que determina quem floresce nos ciclos de transformação.
O primeiro passo é simples e profundamente estratégico. Investir em energia solar fotovoltaica não é apenas uma escolha financeira. É uma escolha de autonomia. Cada residência que se torna geradora reduz a pressão sobre o grid nacional. Cada empresa que instala painéis reverte custo fixo em liberdade econômica. Cada família que produz parte da própria energia aumenta seu patrimônio, diminui sua vulnerabilidade e cria previsibilidade em um país que raramente oferece previsibilidade.

Isso é profilaxia energética, algo que defendo há anos. As pessoas gastam com seguros e reservas emergenciais, mas esquecem que energia é o seguro mais básico. Uma casa com energia própria é uma casa que continua funcionando em qualquer cenário. É a primeira camada de soberania individual.
Depois vem a climatização inteligente. Não como luxo, mas como ferramenta de produtividade. O ar-condicionado transformou o sul dos EUA porque permitiu que pessoas trabalhassem no próprio pico cognitivo. O brasileiro médio não percebe que vive em um país onde o calor rouba concentração, tempo, disciplina e energia mental. Quando a vida doméstica e profissional se estabiliza termicamente, o cérebro opera de forma mais linear. Produtividade é, antes de tudo, temperatura.
O terceiro movimento é escolher onde viver com base em energia, custo de vida e qualidade de vida, não apenas status urbano. A interiorização é uma das maiores oportunidades da década. Cidades menores oferecem espaço para placas solares, custos mais baixos, menos ruído, menos deslocamento, mais vida real. As grandes potências do futuro não serão megacidades verticais, mas redes de cidades médias bem distribuídas, alimentadas por energia limpa e conectadas digitalmente.
A quarta decisão individual é investir na própria formação para trabalhar em setores que se beneficiam diretamente da transição energética. Profissões ligadas à automação, análise de dados, manutenção de sistemas solares, engenharia elétrica, eficiência energética, desenho urbano e tecnologia aplicada tendem a crescer. Estão surgindo agora as carreiras que serão dominantes em 2035. Quem se move cedo escapa da estagnação.

E por fim, a última decisão. Talvez a mais profunda.
É compreender que energia é liberdade. Quanto mais energia limpa você controla, mais distante fica de apagões econômicos, políticos e sociais. Energia altera o destino de cidades, empresas e famílias. Energia cria estabilidade em um país acostumado ao improviso. Energia é o fundamento de uma vida que progride em vez de sobreviver.
O Brasil como nação precisa despertar para essa verdade. Mas enquanto o país desperta, qualquer pessoa que aja antes já está um passo à frente. É assim que se constrói soberania individual em um mundo instável.
Quando olhamos para a história longa da humanidade, percebemos que tudo o que chamamos de desenvolvimento, riqueza, cultura, tecnologia e progresso é apenas a superfície.
A base verdadeira está escondida debaixo de cada avanço.
E essa base sempre foi a mesma: energia.
Os Estados Unidos não se tornaram uma potência global porque eram especiais. Tornaram-se potência porque tiveram energia abundante antes de todos os outros.
O sul americano não cresceu por acaso. Cresceu porque o ar-condicionado libertou milhões de pessoas do determinismo climático.
A Índia não saltou porque o mundo decidiu favorecê-la. Saltou porque garantiu energia suficiente para climatizar cidades inteiras e elevar a mente humana a sua melhor performance.
O Vietnã não virou o novo polo de fábricas do planeta por charme geográfico, mas porque estabilizou sua rede elétrica.
A China não ascendeu por mágica ideológica, mas porque domesticou carvão, hidrelétricas, solar e nuclear em escala continental.
A lógica é inequívoca.
Onde há energia abundante, há civilização.
Onde não há energia abundante, há estagnação.
E o Brasil.
O Brasil que poderia ser muito mais do que é.
O Brasil que tem sol para abastecer um continente, rios que poderiam ser inteligentemente complementados e território para a nova geração de usinas nucleares.
O Brasil que pode produzir hidrogênio verde a custos que fariam a Europa se curvar.
O Brasil que poderia ser, se quisesse, a potência energética do hemisfério sul.
Mas o Brasil ainda dorme.
E enquanto dorme, cai no ranking global, se perde em disputas internas, deixa suas cidades colapsarem e sua juventude sem direção.
A queda recente para a 11ª economia mundial não é um acaso.
É o sintoma mais visível de um país que insiste em crescer sem energia suficiente para crescer.
Energia é destino.
Energia é soberania.
Energia é dignidade.
Energia é liberdade.
E é por isso que, quando escrevo aqui como Lizandro Rosberg, falo com a firmeza de quem sabe que não existe futuro possível para o Brasil sem uma revolução energética séria.
Não adianta reformar ministérios, mudar leis, trocar presidentes ou ajustar impostos.
Se a energia não vier primeiro, nada virá depois.
A potência brasileira nasce quando o país assumir três verdades simples.
Primeira: energia limpa não é pauta ideológica, é estratégia nacional.
Segunda: cada cidadão pode construir sua própria soberania com solar profilática.
Terceira: sem nuclear moderna, hidrogênio verde e redes inteligentes, não existe salto.
Quando essas verdades forem compreendidas, o Brasil deixará de ser promessa.
Será potência.
Não porque alguém dará esse título, mas porque a energia sustentará esse título.
É assim que as civilizações sobem.
É assim que as civilizações se mantêm.
E é assim que, um dia, você vai olhar para trás e perceber que este texto não era apenas uma análise.
Era um aviso.
E era também um mapa.
Um mapa escrito com amor, lucidez e profundidade.
Um mapa que aponta para o único lugar onde o futuro realmente nasce.
A energia.
Texto Original: Lizandro Rosberg
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